domingo, 6 de novembro de 2011

O papel do Brasil em um mundo com 7 bilhões de habitantes

País tem condições de receber o bebê que nasce nessa superlotação, mas para envelhecer com ele de forma saudável, alguns problemas devem ser corrigidos

Cecília Araújo
 
  
 
 
A criança que nascer no Brasil neste dia 31 de outubro de 2011, viverá em um planeta com mais de 7 bilhões de habitantes - simbolizados pela filipina Danica May Camacho, que veio ao mundo dois minutos antes da meia-noite de domingo. Em um país com mais de 190 milhões de moradores, esse bebê brasileiro já integra uma parcela da população com alta expectativa de vida. Em 2100, quando completar 89 anos - e o mundo chegar à marca prevista de 10 bilhões de pessoas - os idosos com mais de 80 anos representarão a maior parcela da população (13,3% dos brasileiros). E diante dessa situação demográfica, a pergunta é: o Brasil está preparado para envelhecer com esse bebê? Para o representante do Fundo da População no Brasil, Harold Robinson, que lançou o relatório sobre a Situação da População Mundial 2011, o país vive um bom momento e está relativamente à frente do restante do mundo nesse quesito. "Embora ainda tenha muitos passos a dar", ressalva, em entrevista ao site de VEJA.
 
A condição favorável deve-se a uma soma de vários fatores, destaca Robinson. Muitos demógrafos acreditam que o desenvolvimento e a diminuição da pobreza e da desigualdade no Brasil - para além das políticas governamentais - estão diretamente ligados à questão da fecundidade. A relação é simples: é bem mais fácil educar um número menor de crianças. Isso também se reflete em um planejamento familiar mais eficiente e um papel mais forte da mulher na sociedade, que ganha mais espaço no mercado de trabalho. Assim, o tamanho das famílias diminui e, consequentemente, a relação de dependência também. Então, as mulheres podem ter seu emprego e contribuir para o crescimento da produtividade do país. Além disso, é possível investir mais nos filhos. Essa transformação já vem acontecendo há alguns anos, o que resultou em um aumento da parcela da população ativa. "O Brasil tem agora mais pessoas em idade produtiva do que dependentes - crianças e idosos, que não trabalham. Essa janela de oportunidades tem de ser aproveitada, porque chegará o momento em que o quadro começará a mudar. Com o aumento da expectativa de vida, a proporção de idosos vai aumentar muito", salienta o representante do Fundo da População no Brasil.
 
Conforme a população envelhece, o número de dependentes aumenta. Nascem menos crianças hoje em dia, é verdade, mas os idosos morrem cada vez mais tarde: a expectativa de vida hoje no país é de 73 anos, mas passará dos 81 a partir de 2050. Em contrapartida, o grupo de pessoas economicamente ativas - que sustentam o sistema e pagam impostos - ficará menor. "O país precisa pensar agora em políticas que garantam um aparato público adequado para quando os atuais jovens se aposentarem. Para isso, é necessária uma atenção especial à previdência pública e ao sistema de aposentadoria", ressalta. Até 2030, o Brasil deve viver um quadro de estabilidade demográfica e esse momento, alerta Robinson, é fundamental para melhorar a condição de vida dos brasileiros."Fazer previsões é uma forma de ajudar os governos a saber como agir desde já nas áreas que estarão mais debilitadas no futuro e enfrentá-las mais facilmente."
 



Confira a situação estrutural do Brasil hoje - e o que deve ser melhorado:

Urbanização

O Brasil é um dos países mais urbanizados do mundo: mais de 85% das pessoas moram em cidades. Maior responsável por essa aglomeração no passado, a migração deve prosseguir de forma mais tímida. E o movimento que antes acontecia de áreas rurais para urbanas, deve ficar concentrada apenas nas zonas urbanas. Como esse processo é espontâneo, ele tende a ser caótico. Por isso, as cidades precisam estar preparadas para oferecer qualidade de vida a esses novos moradores, com acesso principalmente a habitação, educação e emprego.O planejamento urbano deve prever abastecimento (água, energia etc.), transporte, área de lazer, serviços em geral e saneamento básico, que é uma área deficitária muito importante. "As cidades de porte médio, principalmente, serão aquelas que mais crescerão nos próximos anos. No Brasil, por exemplo, a cidade que mais vai crescer não é São Paulo, mas Porto Alegre. Ela deve se planejar desde já para não ter de enfrentar os problemas que muitas das cidades grandes enfrentam hoje", pondera Harold Robinson.

Escolaridade

O Brasil tem melhorado muito no que se refere ao acesso à educação, principalmente no ensino fundamental e médio - o que é essencial para a redução da pobreza, destaca Robinson. Por outro lado, o país enfrenta um problema grave: a falta de qualidade da educação e a baixa produtividade dos jovens. "As crianças brasileiras de agora são praticamente patrimônio do Brasil: o país vai precisar de todas elas, de todos os jovens, com o melhor nível de educação possível, para que colaborem da melhor maneira no seu crescimento." Para isso, Unesco e Unicef pedem reformas no sistema de educação brasileiro.

Expectativa de vida

A expectativa de vida tem aumentado bastante no mundo todo. No Brasil, não é diferente: desde 1980, ganhamos 10 anos a mais de vida. Um dos fatores que colaborou para isso foi a redução da mortalidade infantil. No passado, essa era uma das principais causas de morte nos países em desenvolvimento, por infecções ou falta de saneamento básico. Outros fatores que colaboraram para essa mudança foram os progressos tecnológicos e o acesso mais amplo a políticas de saúde, especialmente entre os idosos. Além disso, a preocupação geral com hábitos e estilos de vida mais saudáveis, com alimentação adequada e prática de atividades físicas, indicam que essa evolução deve continuar.
O que também merece um olhar mais atento é o número de jovens, especialmente homens entre 17 e 30 anos, que morrem vítimas de causas extremas, como acidentes ou violência. A redução da mortalidade materna é mais um desafio, apesar de estar melhorando no Brasil. "Se já chegamos aos 72 anos de expectativa de vida mundial, em um futuro não muito distante devemos alcançar os 82, com a evolução da tecnologia, do acesso ao saúde e dos direitos dos idosos. No Brasil, até 2100, o número de pessoas acima de 60 anos vai triplicar, e as com mais de 80, duplicar", completa Robinson.

Abastecimento


Se o mundo enfrentará dificuldades com escassez de recursos, este não será o caso do Brasil, aponta Robinson. Não há dados conclusivos sobre a capacidade do planeta, então ainda não se pode dizer se chegaremos a um número excessivamente alto de habitantes para serem plenamente abastecidos. O que se sabe é que o grande problema do mundo está menos na disponibilidade de produtos e energia, e mais na sua distribuição igualitária.
No Brasil, não é diferente. "O país não tem problemas com recursos, ao contrário, até contribui para o resto do mundo. Quanto à energia, especificamente, tem feito importantes investimentos e, recentemente, descobriu grandes reservas de petróleo. Com todo esse potencial, é provável que a situação brasileira seja muito melhor do que a atual. O desafio está na distribuição, o que exige programas de governo eficientes", enfatiza o representante do Fundo da População no Brasil.


Fonte: < http://veja.abril.com.br/noticia/internacional/qual-o-papel-do-brasil-em-um-mundo-de-7-bilhoes-de-pessoas> Acesso em: 01/11/2011

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