terça-feira, 8 de novembro de 2011

RESENHA

Impactos ambientais causados pelo crescimento populacional humano desordenado

O blog “Impactos Ambientais Causados pelo Crescimento Populacional Humano Desordenado” apresenta à população dados sobre o constante impacto que a humanidade vem enfrentando em decorrência do crescimento sem sustentabilidade do mundo atual.

O site utiliza meios de linguagem diversos de forma a facilitar o entendimento e a compreensão, tais como reportagens, gráficos, entrevistas e charges.

Criado em Novembro de 2011, o blog já possui 9 tópicos. Em sua primeira matéria já é apresentada a previsão populacional para os próximos 90 anos, onde pode-se visualizar o prospecto de um crescimento na quantidade de habitantes.

Após a introdução deste cenário, as demais matérias e artigos científicos demonstram e corroboram o entendimento de que o crescimento da taxa populacional em desacordo com a manutenção e preservação do meio ambiente são um grande risco à ser enfrentado nos próximos anos pelas nações.

Conforme ressalta a Prof. Adriana Gioda “...o meio ambiente não se refere apenas as áreas de preservação e lugares paradisíacos, mas sim a tudo que nos cerca: água, ar, solo, flora, fauna, homem, etc. Cada um desses itens está sofrendo algum tipo de degradação”.

Desta forma, com base nos dados apresentados, o blog objetiva disseminar a cultura do crescimento sustentável e alertar sobre ações desmedidas do homem, com foque na conscientização da população através de uma forma clara e direta, com linguagem acessível ao público leigo.

domingo, 6 de novembro de 2011

Crescimento populacional X Desequilibrio ambiental

Artigo cientifico: ADRIANA GIODA

PROBLEMAS AMBIENTAIS:

TEMOS CONSCIÊNCIA DA INFLUÊNCIA DOS MESMOS EM NOSSA VIDA?

ADRIANA GIODA

Profa. Depto Química Industrial, UNIVILLE; Joinville, SC,

Doutoranda LADETEC/IQ/UFRJ, Centro de Tecnologia, Bloco A, Sala 607, Ilha do Fundão, Rio de Janeiro, CEP 21.949-900, RJ, agioda@hotmail.com

1. INTRODUÇÃO

Por cerca de 4 bilhões de anos o balanço ecológico do planeta esteve protegido. Com o surgimento do homem, meros 100 mil anos, o processo degradativo do meio ambiente tem sido proporcional à sua evolução.

No Brasil, o início da influência do homem sobre o meio ambiente pode ser notada a partir da chegada dos portugueses. Antes da ocupação do território brasileiro, os indígenas que aqui habitavam (estimados em 8 milhões) sobreviviam basicamente da exploração de recursos naturais, por isso, utilizavam-nos de forma sustentável (WALLAVER, 2000).

Após a exterminação de grande parte dos índios pelos portugueses, o número de habitantes do Brasil se reduziu a três milhões no início do século XIX. Foi nesse período que começaram as intensas devastações do nosso território. À época, o homem se baseava em crenças religiosas que pregavam que os recursos naturais eram infindáveis, então, o término de uma exploração se dava com a extenuação dos recursos do local. Infelizmente, essa cultura tem passado de geração em geração e até os dias de hoje ainda predomina (WALLAVER, 2000).

Com a descoberta do petróleo em 1857 nos EUA, o homem saltou para uma nova era: o mundo industrializado, que trouxe como uma das principais conseqüências a poluição. Ou seja, além de destruirmos as reservas naturais sobrecarregamos o meio ambiente com poluentes. Os acontecimentos decorrentes da industrialização dividiram o povo em duas classes econômicas: os que espoliavam e os que eram espoliados. A primeira classe acumulava economias e conhecimento, enquanto a segunda vivia no estado mais precário possível. A segunda classe pela falta de recursos, utilizava desordenadamente as reservas naturais, causando a degradação de áreas agricultáveis e de recursos hídricos e, com isso, aumentando a pobreza (PORTUGAL, 2002). O modelo econômico atual está baseado na concentração–exclusão de renda. Ambos os modelos econômicos afetam o meio ambiente. A pobreza pelo fato de só sobreviver pelo uso predatório dos recursos naturais e os ricos pelos padrões de consumo insustentáveis (NEIVA, 2001).

As causas das agressões ao meio ambiente são de ordem política, econômica e cultural. A sociedade ainda não absorveu a importância do meio ambiente para sua sobrevivência. O homem branco sempre considerou os índios como povos “não civilizados”, porém esses “povos não civilizados” sabiam muito bem a importância da natureza para sua vida. O homem “civilizado” tem usado os recursos naturais inescrupulosamente priorizando o lucro em detrimento das questões ambientais. Todavia, essa ganância tem um custo alto, já visível nos problemas causados pela poluição do ar e da água e no número de doenças derivadas desses fatores.

A preocupação com o meio ambiente caminha a passos lentos no Brasil, ao contrário dos países desenvolvidos, principalmente em função de prioridades ainda maiores como, p. ex., a pobreza. As carências em tantas áreas impedem que sejam empregadas tecnologias/investimentos na área ambiental. Dessa forma, estamos sempre atrasados com relação aos países desenvolvidos e, com isso, continuamos poluindo.

A única forma para evitar problemas futuros, de ainda maiores degradações do meio ambiente, é através de legislações rígidas e da consciência ecológica.

2. PROBLEMAS AMBIENTAIS ATUAIS

Embora estejam acontecendo vários empreendimentos por parte de empresas, novas leis tenham sido sancionadas, acordos internacionais estejam em vigor, a realidade apontada pelas pesquisas mostra que os problemas ambientais ainda são enormes e estão longe de serem solucionados.

É preciso lembrar que o meio ambiente não se refere apenas as áreas de preservação e lugares paradisíacos, mas sim a tudo que nos cerca: água, ar, solo, flora, fauna, homem, etc. Cada um desses itens está sofrendo algum tipo de degradação. Em seguida serão apresentados alguns dados dessa catástrofe.

- FAUNA

A fauna brasileira é uma das mais ricas do mundo com 10% das espécies de répteis (400 espécies) e mamíferos (600 espécies), 17% das espécies de aves (1.580 espécies) a maior diversidade de primatas do planeta e anfíbios (330 espécies); além de 100.000 espécies de invertebrados (WALLAVER, 2000).

Algumas espécies da fauna brasileira se encontram extintas e muitas outras correm o risco. De acordo com o IBGE há pelo menos 330 espécies e subespécies ameaçadas de extinção, sendo 34 espécies de insetos, 22 de répteis, 148 de aves e 84 de mamíferos. As principais causas da extinção das espécies faunísticas são a destruição de habitats, a caça/pesca predatórias, a introdução de espécies estranhas a um determinado ambiente e a poluição (WALLAVER, 2000). O tráfico de animais silvestres movimenta cerca de 10 bilhões de dólares/ano, sendo que 10% corresponde ao mercado brasileiro, com perda de 38 milhões de espécimes (O GLOBO, 03/07/02).

A poluição, assim como a caça predatória, altera a cadeia alimentar e dessa forma pode haver o desaparecimento de uma espécie e superpopulação de outra. P. ex., o gafanhoto serve de alimento para sapos, que serve de alimento para cobras que serve de alimento para gaviões que quando morrem servem de alimento para os seres decompositores. Se houvesse uma diminuição da população de gaviões devido à caça predatória, aumentaria a população de cobras, uma vez que esses são seus maiores predadores. Muitas cobras precisariam de mais alimentos e, conseqüentemente, o número de sapos diminuiria e aumentaria a população de gafanhotos. Esses gafanhotos precisariam de muito alimento e com isso poderiam atacar outras plantações, causando perdas para o homem (IBAMA, 2001). É importante lembrar que o desaparecimento de determinadas espécies de animais interrompe os ciclos vitais de muitas plantas (O GLOBO, 03/07/02).

- FLORA

Desde o princípio de sua história o homem tem exercido intensa atividade sobre a natureza extraindo suas riquezas florestais, pampas e, em menor intensidade, as montanhas. As florestas têm sido as mais atingidas, devido ao aumento demográfico elas vêm sendo derrubadas para acomodar as populações, ou para estabelecer campos agricultáveis (pastagens artificiais, culturas anuais e outras plantações de valor econômico) para alimentar as mesmas. Essa ocupação tem sido realizada sem um planejamento ambiental adequado causando alterações significativas nos ecossistemas do planeta. As queimadas, geralmente praticadas pelo homem, são atualmente um dos principais fatores que contribuem para a redução da floresta em todo o mundo, além de aumentar a concentração de dióxido de carbono na atmosfera, agravando o aquecimento do planeta. O fogo afeta diretamente a vegetação, o ar, o solo, a água, a vida silvestre, a saúde pública e a economia. Há uma perda efetiva de macro e micronutrientes em cada queimada que chega a ser superior a 50% para muitos nutrientes. Além de haver um aumento de pragas no meio ambiente, aceleração do processo de erosão, ressecamento do solo entre vários outros fatores. A queimada não é de todo desaconselhada desde que seja feita sob orientação (p. ex., Técnico do IBAMA) e facilmente controlada . Apesar do uso de sistemas de monitoramento via satélite, os quais facilitam a localização de focos e seu combate, ainda é grande o número de incêndios ocorridos nas florestas brasileiras (SILVA, 1998).

150 mil Km2 de floresta tropical são derrubados por ano, sendo que no Brasil, são em torno de 20 mil km2 de floresta amazônica. Além desta, a mata Atlântica é a mais ameaçada no Brasil e a quinta no mundo, já tendo sido devastados 97% de sua área (VITOR, 2002).

- RECURSOS HÍDRICOS

Já ouvimos falar muito sobre a guerra do petróleo e os países da OPEP. Como se sabe, a maior concentração de petróleo conhecida está localizada no Golfo Pérsico. Porém, o petróleo deste novo século que também causará muitas guerras é outro: a água. Mais da metade dos rios do mundo diminuíram seu fluxo e estão contaminados, ameaçando a saúde das pessoas. Esses rios se encontram tanto em países pobres quanto ricos. Os rios ainda sobreviventes são o Amazonas e o Congo. A Bacia do Amazonas é o maior filão de água doce do planeta, correspondendo a 1/5 da água doce disponível. Não é à toa que há um interesse mundial na proteção dessa região (PORTUGAL, 1994). Não é porque a Amazônia é o pulmão do mundo, isso já foi comprovado que todo o oxigênio produzido por essa floresta é consumido por ela mesma. Em um futuro próximo o mundo sedento virá buscar água na Bacia do Amazonas e o Brasil será a OPEP da água. Por isso, temos que ter muito cuidado para não sermos surpreendidos e dominados por nações mais poderosas.

Apenas 2% da água do planeta é doce, sendo que 90% está no subsolo e nos pólos. Cerca de 70% da água consumida mundialmente, incluindo a desviada dos rios e a bombeada do subsolo, são utilizadas para irrigação. Aproximadamente 20% vão para a indústria e 10% para as residências (http://www.wiuma.org.br). Atualmente a água já é uma ameaça a paz mundial, pois, muitos países da Ásia e do Oriente Médio disputam recursos hídricos. Relatórios da ONU apontam que 1 bilhão de pessoas não tem acesso a água tratada e com isso 4 milhões de crianças morrem devido a doenças como o cólera e a malária (DIAS, 2000). A expectativa é de que nos próximos 25 anos 2,76 bilhões de pessoas sofrerão com a escassez de água.

A escassez de água se deve basicamente à má gestão dos recursos hídricos e não à falta de chuvas. Uma das maiores agressões para a formação de água doce é a ocupação e o uso desordenado do solo. Para agravar ainda mais a situação são previstas as adições de mais de 3 bilhões de pessoas que nascerão neste século, sendo a maioria em países que já tem escassez de água, como Índia, China, Paquistão (http://www.wiuma.org.br).

- OCUPAÇÃO DO SOLO

O acesso a terra continua sendo um dos maiores desafios de nosso país. O modelo urbanístico brasileiro praticamente se divide em dois: a cidade oficial (cidade legal, registrada em órgãos municipais) e a cidade oculta (ocupação ilegal do solo). A cidade fora da lei, sem conhecimento técnico e financiamento público, é onde ocorre o embate entre a preservação do meio ambiente e a urbanização. Toda legislação que pretende ordenar o uso e a ocupação do solo, é aplicada à cidade legal, mas não se aplica à outra parte, a qual é a que mais cresce. De acordo com a Profa. Ermíria Maricato (FAU/USP) (apud MEIRELLES, 2000) foram construídos no Brasil 4,4 milhões de moradias entre 1995 e 1999, sendo apenas 700 mil dentro do mercado formal. Ou seja, mais de 3 milhões de moradias foram construídas em terras invadidas ou em áreas inadequadas. Há uma relação direta entre as moradias pobres e as áreas ambientalmente frágeis (beira de córregos, rios e reservatórios, encostas íngremes, mangues, várzeas e áreas de proteção ambiental, APA). Obviamente esses dados são melhor observados nas grandes metrópoles (Rio de Janeiro, São Paulo, Fortaleza), onde mais da metade da população mora ilegalmente. Infelizmente no Brasil a má gestão do solo, bem como, a ausência de uma política habitacional tem levado a esses fatos. Os invasores passam a ser considerados inimigos da qualidade de vida e do meio ambiente, quando na verdade eles não têm alternativas e isso ocorre devido à falta de planejamento urbano.

As conseqüências dessa ocupação desorganizada já são bastante conhecidas: enchentes, assoreamento dos cursos de água devido ao desmatamento e ocupação das margens, desaparecimento de áreas verdes, desmoronamento de encostas, comprometimento dos cursos de água que viraram depósitos de lixo e canais de esgoto. Esses fatores ainda são agravados pelo ressurgimento de epidemias como dengue, febre amarela e leptospirose (MEIRELLES, 2000).

O censo de 2000, realizado pelo IBGE, aponta um crescimento de 22,5% de novas favelas em 9 anos. Há 3.905 favelas no país, sendo 1.548 em São Paulo e 811 no Rio de Janeiro.

Outro fator que está afetando o solo é o mau uso na agricultura. 24 milhões de toneladas de solo agricultável são perdidos a cada ano correspondendo, no momento, a 30% da superfície da Terra. E o pior é que a situação tende a agravar-se. Trata-se de um fenômeno mundial cujos prejuízos chegam a 26 bilhões de dólares anuais, e, com isso a sobrevivência de 1 bilhão de pessoas está ameaçada. As maiores causas da desertificação são o excesso de cultivo e de pastoreio e o desmatamento, além das práticas deficientes de irrigação (MOREIRA, 2000).

- CRESCIMENTO POPULACIONAL

O tema controle da natalidade ainda é um assunto que causa muita polêmica, por isso é tão pouco abordado.

Há muitos aspectos a serem questionados, tanto do ponto de vista ideológico, quanto cultural e religioso. A classe média alta, por ter mais acesso a informação, faz uso de métodos anticoncepcionais, tendo em média dois filhos, semelhante à política adotada em países ricos. Já a maior parte da sociedade brasileira não tem acesso aos mesmos recursos e dispensam menor preocupação com as condições que darão a seus descendentes. Essa classe sem privilégios é onde deveria ocorrer um controle maior da natalidade, minimizando os problemas sociais para o país. A partir dessa iniciativa seriam evitados abortos indesejáveis, crianças abandonadas, exploradas, prostituídas e com um futuro quase certo para a criminalidade, que é a atual realidade das grandes cidades do Brasil e dos países pobres. O crescimento populacional é uma forma de proliferação da pobreza. A pobreza e o meio ambiente estão tão interligadas que serão o tema central da Conferência Mundial sobre o Meio ambiente (RIO+10) deste ano na África do Sul.

O controle da natalidade é indispensável pois o planeta está acima de sua capacidade máxima de ocupação e há evidências de falta de alimentos e água para as próximas décadas. Como alternativa, a limitação de 2 filhos por casal, beneficiaria as condições sócio-econômicas do país, principalmente nos grandes centros onde a maior porcentagem da população carente tem muitos filhos. Com número estável de habitantes, os planos assistenciais seriam mais facilmente desenvolvidos e o meio ambiente poderia ser mantido.

A idéia de um controle de natalidade não é nova. Thomas Malthus (1766-1834), um economista inglês, abordou o problema do crescimento populacional e da produção de alimentos em seus livros. De acordo com o pensamento maltusiano, a felicidade do ser humano está diretamente relacionada com os recursos naturais, ou seja, o esgotamento destes condenará a humanidade à infelicidade. Malthus assegurava que o crescimento populacional traria a miséria, então, se faz necessário conter a explosão demográfica. Para ele, o ótimo da população garantiria mais recursos por habitante, atingindo o equilíbrio entre população e produção de alimentos (RODRIGUES, 2001). Segundo SACHS (apud RODRIGUES, 2001) os maltusianos “acreditavam e ainda acreditam que o mundo já está superpovoado e, portanto, condenado ao desastre, seja pela exaustão dos recursos naturais esgotáveis, seja pela excessiva sobrecarga de poluentes nos sistemas de sustentação da vida”.

O Brasil é um dos países a apresentar maior crescimento populacional. O Censo realizado em 1872 (primeiro) e o de 1991 (décimo) mostraram que a população brasileira passou de 10 milhões para 150 milhões de pessoas, ou seja, um aumento de 15 vezes em 120 anos (http://www.frigoletto.com.br). Entre as décadas de 50-80 sua população teve um acréscimo de 67 milhões, ou seja, muito superior à população de vários países.

Se no planeta com 6 bilhões de habitantes, a população já se encontra no limite, imagine-se com 10 bilhões de pessoas previstas para o ano de 2050. Países como a Índia terão um acréscimo de 519 milhões de pessoas, China 211 milhões e o Paquistão de 200 milhões até o ano de 2050 (http://www.wiuma.org.br). Se não for realizado um controle da natalidade, seremos todos responsáveis pela condenação de milhões de pessoas a morrer de fome ou sede. A morte por fome já é uma realidade em vários países da África e tem sido destaque na imprensa diariamente (O GLOBO 20/02/01; 26/06/02; 23/05/02; 13/06/02). Com base nestes dados, como se pode pensar em não fazer um controle da natalidade?

- LIXO

Outro trágico fator ambiental é o lixo que em sua maioria ainda é lançado a céu aberto. No Brasil, cerca de 85% da população brasileira vive nas cidades. Com isso, o lixo se tornou um dos grandes problemas das metrópoles. Pela legislação vigente, cabe às prefeituras gerenciar a coleta e destinação dos resíduos sólidos. De acordo com o IBGE, 76% do lixo é jogado a céu aberto sendo visível ao longo de estradas e também são carregados para represas de abastecimento durante o período de chuvas. Embora muito esteja se fazendo nesta área em nível mundial, ainda são poucos os materiais aproveitados no Brasil onde é estimada uma perda de cerca de 4 bilhões de dólares por ano. Mas, há indícios de melhora na área no país onde se tem como melhor exemplo as latas de alumínio, cuja produção é 63% reciclada (COZETTI, 2001). O lixo industrial apresenta índices maiores de reciclagem. De acordo com a FIRJAN, no estado do Rio de Janeiro 36-70% das indústrias reciclam seus dejetos (BRANDÃO, 2002).

Cada brasileiro produz 1 Kg de lixo doméstico por dia, ou seja, se a pessoa viver 70 anos terá produzido em torno de 25 toneladas. Se multiplicarmos pela população brasileira, pode-se imaginar a dimensão do problema (COZETTI, 2001).

- SANEAMENTO BÁSICO

Outro fator gravíssimo para aumentar a poluição ambiental é a falta de saneamento básico. Atualmente apenas 8% do esgoto doméstico é tratado no Brasil e o restante é despejado diretamente nos cursos d’ água (MEIRELLES, 2000).

Um relatório da ONU revela que as regiões costeiras, sul e sudeste do Brasil, são as mais poluídas do mundo. 40 milhões de pessoas vivem no litoral lançando 150 mil litros de esgoto por dia ou 6 bilhões de litros de esgoto sem tratamento (VITOR, 2002).

Os poucos investimentos do governo nessa área são inexplicáveis, uma vez que, para cada dólar investido no saneamento básico, 4 dólares são economizados com a prevenção de doenças que requerem internações (CRUZ, 2000).

Segundo dados preliminares do relatório a ser apresentado na RIO+10, a falta de saneamento básico responde por 65% das internações nos hospitais do país (http://www.ultimosegundo.ig.com.br).

- CONDIÇÕES CLIMÁTICAS

Em 1990, 200 cientistas participaram do primeiro painel intergovernamental de mudança do clima, organizado pelas Nações Unidas. À época eles alertaram que o mundo precisava reduzir de 60 a 80% seus gases causadores do efeito estufa, para restabelecer o equilíbrio na Terra. A partir desses dados foi criado o Protocolo de Kioto, o qual estabeleceu que os países industrializados deveriam diminuir as emissões de dióxido de carbono em 5,2% até janeiro de 2012, sobre os níveis vigentes em 1990. O Brasil já aprovou a assinatura deste Protocolo (O GLOBO 20/06/02).

A preocupação com as mudanças climáticas é justificada, pois afetarão todo o planeta e de forma desproporcional os países pobres que serão atingidos por ciclones tropicais, chuvas torrenciais e ventos fortes, escassez de água, doenças e erosão. Esses países são mais vulneráveis devido à falta de recursos. Além disso, poderá haver a redução de colheitas e nesse caso o Brasil seria um dos países afetados entre vários outros efeitos (NORONHA, 2001). Com verões mais longos e quentes aumentará a taxa de reprodução e crescimento de insetos e, com isso, aumenta a transmissão de doenças por estes vetores (O GLOBO 21/06/02).

O renomado cientista Stephen Hawkings já havia alertado que a espécie humana não chegaria ao final do Terceiro Milênio justamente por causa do efeito estufa (NORONHA, 2001).

De acordo com o secretário geral da ONU, Kafi Annau, pouco se tem feito com relação ao desenvolvimento sustentável proposto na ECO-92, porque os países ricos não têm cumprido os acordos internacionais firmados à época. É pouco provável que as medidas propostas venham a ser adotados por esses governos, uma vez que, precisariam de uma mudança total no modelo de desenvolvimento econômico e social (NEIVA, 2001). Os EUA reconheceram que há um elo entre o efeito estufa e o homem, mesmo assim, os maiores poluidores mundiais, anunciaram oficialmente que não se sente no compromisso de colaborar com a despoluição atmosférica, prevista no Protocolo de Kioto, para que suas indústrias gastem com programa de controles de emissões sujas (O GLOBO 04/06/02). Entre os possíveis danos causados pela emissão descontrolada de compostos para a atmosfera alguns já estão comprovados. Como exemplo, os poluentes lançados por usinas geradoras de energia e indústrias dos EUA, Canadá e Europa causaram uma das principais secas da história da humanidade. A poluição gerada nesses países teria reduzido de 20 a 50% o volume de chuvas no Sahel, afetando os países mais pobres do mundo, como a Etiópia e causando a morte de 1 milhão de pessoas por fome (http://www.newscientist.com/news). Esses dados comprovam que as fronteiras geográficas do planeta não impedem que a poluição se alastre.

Um novo e mais amplo estudo sobre a Terra foi realizado por 1.000 especialistas, através do Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas. Esse relatório prevê um futuro sombrio para o planeta caso não sejam tomadas providências imediatas. De acordo com esse estudo metade dos rios já estão poluídos, 15% do solo estão degradados e 80 países sofrem com a escassez de água. Segundo o relatório, nas próximas três décadas 50% da população sofrerá com a falta de água; 11 mil espécies de animais e plantas estão ameaçados de extinção. O relatório alerta que essas drásticas mudanças, pelas quais o planeta está passando, agravarão o problema da fome e de doenças infecciosas e tornarão as tragédias climáticas mais freqüentes. O relatório informa que muitos desses problemas poderiam ter sido amenizados se houvessem sido cumpridos os acordos estabelecidos na RIO-92, que até agora não saíram do papel. (O GLOBO 23/05/02)

Não devemos pensar que essas mudanças estão muito distantes de nós. É só olharmos para trás e veremos as modificações sofridas no meio ambiente nos últimos dez anos: verões mais quentes, invernos mais curtos, pouca periodicidade nas chuvas, secas e enchentes etc. Muitos outros efeitos serão somados a esses, nos próximos 10 anos, se não tomarmos providências.

- DESPERDÍCIO

No Brasil por se ter disponibilidade de recursos, o desperdício se tornou parte de nossa cultura, isso tanto para pobres quanto ricos.

20% dos alimentos são desperdiçados (desde a colheita até a mesa da comunidade) segundo o IBGE. Essas toneladas perdidas seriam suficientes para matar a fome de toda a população carente. Além disso, jogamos fora muito material reciclável (são despejadas na natureza 125 mil toneladas de rejeitos orgânicos e materiais recicláveis por dia). A cada tonelada de papel que se recicla, 40 árvores deixam de ser cortadas. Em ambos os casos o desperdício gera poluição ambiental.

50% da água tratada é desperdiçada no país. E o pior é que essa água retorna aos mananciais após o uso, sem tratamento e, novamente, retorna a nós para consumo após vários tratamentos com custos elevadíssimos. Entre os maus hábitos estaria a lavagem de carro, calçadas, roupas, banhos demorados, louças na qual é desperdiçada mais água do que o necessário, além de vazamentos. Uma gota de água caindo o dia inteiro corresponde a 46L (CRUZ, 2001).

Com relação à energia elétrica, os brasileiros desperdiçam meia produção anual de Itaipu ou 9,5% da média total anual (CRUZ, 2001). Como exemplo de desperdícios está o uso irracional de aparelhos elétricos e luzes acessas desnecessariamente. O uso racional poderá evitar a construção de novas barragens, que causam grandes impactos ambientais, apenas pela minimização dos desperdícios.

3. OUTROS DADOS “INTERESSANTES”

Dados recentes fornecidos pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) mostraram que o mundo está consumindo 40% além da capacidade de reposição da biosfera (energia, alimentos, recursos naturais) e o déficit é aumentado 2,5% ao ano (COZETTI, 2001).

Relatórios da ONU apontam que 85% de produção e do consumo no mundo estão localizados nos países industrializados que tem apenas 19% da população (VITOR, 2002).

O relatório da PNUD também afirma que as 3 pessoas mais ricas do mundo têm lucro superior ao PIB dos 48 países mais pobres onde vivem cerca de 600 milhões de pessoas.

É estimado que sejam gastos no planeta 435 bilhões de dólares/ano em publicidade. 15 bilhões de dólares seriam suficientes para acabar com a fome do mundo, que mata 10 milhões de crianças por ano (BISSIO, 2000). Nós também somos culpados por essas mortes uma vez que atendemos aos apelos da mídia e da sociedade de consumo (compre isso, compre aquilo!!!).

Os EUA têm 5% da população mundial e consomem 40% dos recursos disponíveis. Se os 6 bilhões de pessoas usufruíssem o mesmo padrão de vida dos 270 milhões de americanos, seriam necessários 6 planetas (Edward Wilson apud MOON, 2002).

Os EUA, em 1997, emitiam 20,3 toneladas (22,7% emissões mundiais) de CO2 por habitante, a China 2,5 toneladas/habitante (13,07%), a Índia 900 Kg/habitante (3,49%) e o Brasil 1,91 toneladas/habitante (1,25%) (http://www.aquecimentoterrestre.ig.com.br). Os EUA aumentaram em 13% (e deverá chegar a 29% até o fim da década) suas emissões poluentes nos últimos 10 anos o que equivale a um aumento conjunto da Índia, China e África, países com uma população dez vezes maior (O GLOBO, 20/06/02).

4. EDUCAÇAO AMBIENTAL - ALTERNATIVA PARA UM FUTURO ECOLOGICAMENTE CORRETO

A questão ambiental ainda é pouco conhecida pela população no Brasil e atinge basicamente as classes mais privilegiadas da sociedade. Poucos sabem, mas a Educação Ambiental já é lei no país. A Lei 9.795 de 27/04/1999 institui a Política Nacional de Educação Ambiental a qual reza que todos os níveis de ensino e da comunidade em geral têm direito à educação ambiental e que os meios de comunicação devem colaborar para a disseminação dessas informações. Até o momento pouco foi implantado nessa área.

Embora ainda não muito familiarizados com a consciência ecológica, os brasileiros se mostram dispostos a colaborar. CRESPO (1998) comprovou esse fato quando realizou uma pesquisa sobre meio ambiente, na qual entrevistou 2.000 pessoas e 90 líderes de vários setores, em 1992 e 1997. A população citou como principais problemas ambientais, o desmatamento e as queimadas (45%) e a contaminação dos rios, mares e oceanos (26%). Já os líderes em questões ambientais no país apontaram o saneamento e o lixo, seguidos de contaminação dos recursos hídricos. Eles também se mostraram dispostos a ajudar em campanhas de separação e reciclagem de lixo (72%), contra o desperdício de água (52%) e energia (41%) e no reflorestamento (27%). Mais da metade (59%) consideram a natureza sagrada e têm noção de que os danos ambientais causados pelo homem são irreversíveis e concordaram que o controle da natalidade é indispensável para o meio ambiente.

A preservação do meio ambiente depende de todos: governo, educadores, empresas, Organizações Não-Governamentais (ONGs), meios de comunicação e de cada cidadão. A educação ambiental é fundamental na resolução desses problemas, pois vai incentivar os cidadãos a conhecerem e fazerem sua parte, entre elas: evitar desperdício de água, luz e consumos desnecessários (REDUZIR, REUSAR e RECICLAR), fazer coleta seletiva, adquirir produtos de empresas preocupadas com o meio ambiente, cobrar as autoridades competentes para que apliquem a lei, tratem o lixo e o esgoto de forma correta, protejam áreas naturais, façam um planejamento da utilização do solo, incentivem a reciclagem entre outros.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O maior número de leis de proteção ambiental, os grandes investimentos em pesquisas e tecnologias limpas por empresas, a criação de ONGs e a participação mais ativa da sociedade são uma realidade mundial. Todos esses avanços ainda não são suficientes para salvar o planeta e as previsões são sombrias. O tema é complexo e envolve fatores políticos, econômicos, sociais e até mesmo culturais entre todas as nações e por isto a resolução do problema não é tão simples. No Brasil, está aumentando a consciência ecológica e há leis mais rígidas, mas ainda não há uma ação política efetiva nessa área. Evidente que essas atitudes estão mudando, embora lentamente. Nas campanhas eleitorais atuais alguns partidos incluíram em seus planos de governo questões ambientais como o Tratado de Kioto. Apesar do país estar se destacando na área ambiental frente outros países da América Latina, ainda é no Brasil que ocorrem os maiores desastres ecológicos atribuídos a indústria (BRAGA, 2002).

Para que os danos ambientais não atinjam maiores proporções, ou seja, danos irreversíveis, serão indispensáveis neste século que todos os povos se unam. A educação ambiental será absolutamente necessária para conscientizar a sociedade e, com isso, obter a participação mais ativa da mesma. A adoção de uma política ambiental mais eficiente com leis mais rigorosas, monitoramento ambiental adequado e permanente, fiscalização, maiores investimentos em pesquisas de solução ecologicamente sustentável para os problemas ambientais e incentivos fiscais a empresas, será a única alternativa viável para conter os danos ao meio ambiente.

Para refletir:
A cada criação do homem um pouco do planeta se acaba. Então devemos pensar bem no que criamos ou consumimos.

É preciso construir tanto prédio, tanto carro, consumir tanto, para que o ser humano se realize na vida?” Ladislau Dawbor (apud BISSIO, 2000).

O papel do Brasil em um mundo com 7 bilhões de habitantes

País tem condições de receber o bebê que nasce nessa superlotação, mas para envelhecer com ele de forma saudável, alguns problemas devem ser corrigidos

Cecília Araújo
 
  
 
 
A criança que nascer no Brasil neste dia 31 de outubro de 2011, viverá em um planeta com mais de 7 bilhões de habitantes - simbolizados pela filipina Danica May Camacho, que veio ao mundo dois minutos antes da meia-noite de domingo. Em um país com mais de 190 milhões de moradores, esse bebê brasileiro já integra uma parcela da população com alta expectativa de vida. Em 2100, quando completar 89 anos - e o mundo chegar à marca prevista de 10 bilhões de pessoas - os idosos com mais de 80 anos representarão a maior parcela da população (13,3% dos brasileiros). E diante dessa situação demográfica, a pergunta é: o Brasil está preparado para envelhecer com esse bebê? Para o representante do Fundo da População no Brasil, Harold Robinson, que lançou o relatório sobre a Situação da População Mundial 2011, o país vive um bom momento e está relativamente à frente do restante do mundo nesse quesito. "Embora ainda tenha muitos passos a dar", ressalva, em entrevista ao site de VEJA.
 
A condição favorável deve-se a uma soma de vários fatores, destaca Robinson. Muitos demógrafos acreditam que o desenvolvimento e a diminuição da pobreza e da desigualdade no Brasil - para além das políticas governamentais - estão diretamente ligados à questão da fecundidade. A relação é simples: é bem mais fácil educar um número menor de crianças. Isso também se reflete em um planejamento familiar mais eficiente e um papel mais forte da mulher na sociedade, que ganha mais espaço no mercado de trabalho. Assim, o tamanho das famílias diminui e, consequentemente, a relação de dependência também. Então, as mulheres podem ter seu emprego e contribuir para o crescimento da produtividade do país. Além disso, é possível investir mais nos filhos. Essa transformação já vem acontecendo há alguns anos, o que resultou em um aumento da parcela da população ativa. "O Brasil tem agora mais pessoas em idade produtiva do que dependentes - crianças e idosos, que não trabalham. Essa janela de oportunidades tem de ser aproveitada, porque chegará o momento em que o quadro começará a mudar. Com o aumento da expectativa de vida, a proporção de idosos vai aumentar muito", salienta o representante do Fundo da População no Brasil.
 
Conforme a população envelhece, o número de dependentes aumenta. Nascem menos crianças hoje em dia, é verdade, mas os idosos morrem cada vez mais tarde: a expectativa de vida hoje no país é de 73 anos, mas passará dos 81 a partir de 2050. Em contrapartida, o grupo de pessoas economicamente ativas - que sustentam o sistema e pagam impostos - ficará menor. "O país precisa pensar agora em políticas que garantam um aparato público adequado para quando os atuais jovens se aposentarem. Para isso, é necessária uma atenção especial à previdência pública e ao sistema de aposentadoria", ressalta. Até 2030, o Brasil deve viver um quadro de estabilidade demográfica e esse momento, alerta Robinson, é fundamental para melhorar a condição de vida dos brasileiros."Fazer previsões é uma forma de ajudar os governos a saber como agir desde já nas áreas que estarão mais debilitadas no futuro e enfrentá-las mais facilmente."
 



Confira a situação estrutural do Brasil hoje - e o que deve ser melhorado:

Urbanização

O Brasil é um dos países mais urbanizados do mundo: mais de 85% das pessoas moram em cidades. Maior responsável por essa aglomeração no passado, a migração deve prosseguir de forma mais tímida. E o movimento que antes acontecia de áreas rurais para urbanas, deve ficar concentrada apenas nas zonas urbanas. Como esse processo é espontâneo, ele tende a ser caótico. Por isso, as cidades precisam estar preparadas para oferecer qualidade de vida a esses novos moradores, com acesso principalmente a habitação, educação e emprego.O planejamento urbano deve prever abastecimento (água, energia etc.), transporte, área de lazer, serviços em geral e saneamento básico, que é uma área deficitária muito importante. "As cidades de porte médio, principalmente, serão aquelas que mais crescerão nos próximos anos. No Brasil, por exemplo, a cidade que mais vai crescer não é São Paulo, mas Porto Alegre. Ela deve se planejar desde já para não ter de enfrentar os problemas que muitas das cidades grandes enfrentam hoje", pondera Harold Robinson.

Escolaridade

O Brasil tem melhorado muito no que se refere ao acesso à educação, principalmente no ensino fundamental e médio - o que é essencial para a redução da pobreza, destaca Robinson. Por outro lado, o país enfrenta um problema grave: a falta de qualidade da educação e a baixa produtividade dos jovens. "As crianças brasileiras de agora são praticamente patrimônio do Brasil: o país vai precisar de todas elas, de todos os jovens, com o melhor nível de educação possível, para que colaborem da melhor maneira no seu crescimento." Para isso, Unesco e Unicef pedem reformas no sistema de educação brasileiro.

Expectativa de vida

A expectativa de vida tem aumentado bastante no mundo todo. No Brasil, não é diferente: desde 1980, ganhamos 10 anos a mais de vida. Um dos fatores que colaborou para isso foi a redução da mortalidade infantil. No passado, essa era uma das principais causas de morte nos países em desenvolvimento, por infecções ou falta de saneamento básico. Outros fatores que colaboraram para essa mudança foram os progressos tecnológicos e o acesso mais amplo a políticas de saúde, especialmente entre os idosos. Além disso, a preocupação geral com hábitos e estilos de vida mais saudáveis, com alimentação adequada e prática de atividades físicas, indicam que essa evolução deve continuar.
O que também merece um olhar mais atento é o número de jovens, especialmente homens entre 17 e 30 anos, que morrem vítimas de causas extremas, como acidentes ou violência. A redução da mortalidade materna é mais um desafio, apesar de estar melhorando no Brasil. "Se já chegamos aos 72 anos de expectativa de vida mundial, em um futuro não muito distante devemos alcançar os 82, com a evolução da tecnologia, do acesso ao saúde e dos direitos dos idosos. No Brasil, até 2100, o número de pessoas acima de 60 anos vai triplicar, e as com mais de 80, duplicar", completa Robinson.

Abastecimento


Se o mundo enfrentará dificuldades com escassez de recursos, este não será o caso do Brasil, aponta Robinson. Não há dados conclusivos sobre a capacidade do planeta, então ainda não se pode dizer se chegaremos a um número excessivamente alto de habitantes para serem plenamente abastecidos. O que se sabe é que o grande problema do mundo está menos na disponibilidade de produtos e energia, e mais na sua distribuição igualitária.
No Brasil, não é diferente. "O país não tem problemas com recursos, ao contrário, até contribui para o resto do mundo. Quanto à energia, especificamente, tem feito importantes investimentos e, recentemente, descobriu grandes reservas de petróleo. Com todo esse potencial, é provável que a situação brasileira seja muito melhor do que a atual. O desafio está na distribuição, o que exige programas de governo eficientes", enfatiza o representante do Fundo da População no Brasil.


Fonte: < http://veja.abril.com.br/noticia/internacional/qual-o-papel-do-brasil-em-um-mundo-de-7-bilhoes-de-pessoas> Acesso em: 01/11/2011

Explosão demográfica e urbanização: inflação humana

(Revista Superinteressante - Junho/1989)

Existe gente demais no mundo? Ou o que há é gente demais nas cidades? De toda forma, a superpopulação agride a Terra, inferniza a vida e gera um problema tamanho família.

por Luiz Weis e Marcelo Macca


Aconteceu tudo em tempo recorde. Num abrir e fechar de olhos, a contar no relógio da História da espécie, ou numa fração infinitesimal disso, no calendário da História do planeta, o homem disse adeus a um modo de vida que inventara há uns 10 mil anos, quando pela primeira vez plantou uma semente, e escolheu crescer e multiplicar-se em aglomerações de pedra e cal - as cidades, um mundo de maravilhas, mas também um mundo literalmente à parte da natureza desta Terra. A vertiginosa rapidez da mudança é, de fato, de tirar a respiração - e esse ritmo, por sinal, tem muito a ver com as mazelas que a própria mudança engendrou.
Há apenas 89 anos, quando estava para começar um novo século, nove em cada dez homens, mulheres e crianças, que somavam uma população global de 1,65 bilhão de seres, ainda viviam no campo. Pois daqui a onze anos, quando estiver para começar um novo milênio, pouco menos da metade dos estimados 6 bilhões de pessoas habitará cidades. E desses quase 3 bilhões de citadinos nada menos de 485 milhões, ou seja, numa proporção de três para vinte, se apertarão em meia centena de metrópoles e megametrópoles de 5 milhões de habitantes para cima cada uma. Nesse período, por exemplo, São Paulo terá deixado de ser uma acanhada cidade de 240 mil almas (em 1900) para ascender à condição de segundo maior centro urbano do planeta, com 24 milhões de habitantes, o que representa um crescimento de colossais 9.900 por cento. E São Paulo é só um entre dezenas de casos de igual porte.

Dificilmente se encontrará metamorfose comparável a tamanha irrupção em qualquer outro capítulo da acidentada aventura do homem. Os números não são apenas espantosos. Constituem o caroço de uma realidade cada vez mais difícil de digerir. Servem para desenhar os contornos de um labirinto aparentemente sem saída ou sem saída até onde a vista alcança. Porque a crise da superpopulação humana e do congestionamento urbano já não se pesa na balança ingênua dos bons velhos tempos em que se lotava um dos pratos com pessoas enquanto se polvilhava o outro com grãos para, ao fim e ao cabo, provar judiciosamente que a oferta de comida, em escala planetária, não conseguiria crescer tanto e tão depressa como o número de bocas famintas. O buraco agora é mais profundo.

É claro que gente demais costuma andar de braço dado com alimento de menos - e aí estão largas fatias da Ásia e da África para provar que essa antiga verdade ainda sobrevive. Mas na dança macabra da pobreza com a proliferação humana nem sempre se enxerga com nitidez quem guia quem, sendo legítimo afirmar que as pessoas têm mais filhos porque são pobres (e portanto precisam mais braços para a lavoura, por assim dizer) e não que se tornaram pobres por terem tido mais filhos - sempre supondo, naturalmente, que se não quisessem tê-los saberiam como evitá-los. O problema em todo caso é outro: quando os demógrafos começaram a falar em explosão demográfica, a produção mundial de proteínas realmente perdia a corrida para a produção mundial de bebês e muita gente jurava que iria ser assim até o fim dos tempos. A ciência, porém, deu conta dessa profecia.

A revolução agrícola iniciada nos anos 60 e a revolução da engenharia genética que já desponta devem afugentar o fantasma da escassez alimentar, ficando por resolver a engenharia social da distribuição da fartura. Vista pelos inquietos olhos deste final de século, a questão populacional tem duas outras carrancas. A primeira assombra as combalidas relações do homem com a natureza. A segunda, as relações entre os próprios homens. Num caso, são os ecologistas que ficam de cabelo em pé. "A proliferação humana é a maior ameaça ao ambiente do planeta", denuncia o biólogo americano Paul Ehrlich, da Universidade de Stanford, Califórnia, autor do best-seller The population bomb, ainda não editado no Brasil.

No outro caso, quem se atormenta são os urbanistas, sociólogos e demais estudiosos da conduta humana. Não importa apenas saber quantos homens a Terra pode alimentar, mas a partir de qual densidade os homens começarão a se odiar uns aos outros", alertou certa vez o etólogo austríaco Konrad Lorentz, Prêmio Nobel de Medicina de 1973, morto em fevereiro último. Ele pensava na inevitável deterioração da qualidade de vida e do convívio entre as pessoas, obrigadas a pelejar às cotoveladas pelos seus direitos de cidadania em ajuntamentos urbanos cada vez mais inchados, onde as asperezas do dia-a-dia cobram de todos e de cada um pesados tributos emocionais, pagos geralmente na moeda da violência.

Na vertente ecológica, o aumento acelerado da população mundial - que simplesmente dobrou de 2,5 bilhões para os atuais 5 bilhões em menos de quarenta anos - é apontado como principal responsável pelos desastres acumulados que ameaçam a vida na Terra, desde o efeito estufa até a extinção em escala sem precedentes de espécies animais e vegetais,do buraco na camada de ozônio ao esgotamento dos solos e de recursos minerais. Para o biólogo Paul Ehrlich, a vítima preferencial da superpopulação são os ecossistemas -o conjunto de formas de vida e de processos naturais em equilíbrio dinâmico que tornam o mundo habitável. Os serviços que tais ecossistemas oferecem à humanidade são literalmente vitais", ensina ele.

Um desses serviços, ameaçados não só pelo aumento físico das populações como também pelas condições em que se dá a expansão da presença humana na Terra, é o que determina a qualidade da mistura de gases na atmosfera. Como se sabe, a respiração de animais e plantas consiste numa ciranda de oxigênio e dióxido de carbono. Este é usado pelas algas e plantas verdes terrestres para fixar a luz solar no processo da fotossíntese, da qual um subproduto é o oxigênio.Também se sabe que a queima de combustíveis fósseis, como carvão e petróleo, e o desmatamento por atacado desequilibram aquele jogo da vida, ao aumentar a quantidade de dióxido de carbono no ar. Pois bem. Recente pesquisa conduzida por cientistas americanos mostrou que existe uma íntima relação entre a concentração de gás carbônico na atmosfera e o crescimento populacional.

Trabalhando com medições de dióxido de carbono de um lado e de índices de expansão demográfica de outro, ao longo de um período de 26 anos; encerrado em 1983, os pesquisadoras verificaram estatisticamente o parentesco muito próximo entre as duas séries de dados. Ou seja, o ritmo do aumento da concentração do gás segue rigorosamente o ritmo do aumento da população mundial. Outro efeito potencialmente maligno da proliferação humana atinge aquilo que os cientistas chamam “produtividade da rede primária” - a energia total obtida do Sol por algas, plantas e bactérias (a fonte básica de alimento para os animais) menos o que elas próprias gastam para sobreviver.

Pois bem de novo: calcula-se que a espécie humana - uma entre milhões de formas de vida na face da Terra - se apropria de aproximadamente 40 por cento do potencial da produtividade do conjunto dos ecossistemas. As eventuais conseqüências de tamanha voracidade daqui a uns quarenta anos, quando as projeções indicam que haverá duas vezes mais gente do que hoje no mundo, é matéria aberta à especulação. Mas não é difícil imaginar, por exemplo, os efeitos ambientais da expansão em marcha batida das atividades agrícolas. Porque, por mais que a tecnologia faça aumentar a produtividade por unidade de terreno cultivado, o alargamento das fronteiras agrícolas em escala mundial será indispensável para que a humanidade tenha o que comer - pelo menos conforme os nem sempre satisfatórios padrões atuais.

Isso significa que extensões florestais essenciais à delicada contracorrente que torna suportável o clima na Terra terão de ser convertidas em plantações ou pastos. O uso cada vez mais intensivo do solo, por outro lado, irá requerer doses também maiores de fertilizantes sintéticos, o que deve modificar dramaticamente a química das terras da Terra. A água potável, outro recurso natural não renovável, tampouco fica imune à superpopulação. Mais gente, logicamente, usa mais água - e a velocidade do crescimento do consumo já é maior que o tempo necessário à recuperação dos mananciais.

Essa dor de cabeça que o homem está vertendo tem tudo a ver com a explosão das cidades. O aumento avassalador das áreas urbanizadas se traduz em novas ruas, avenidas, estradas asfaltadas. Tudo isso acaba por impermeabilizar o solo, impedindo que os lençóis subterrâneos sejam realimentados pelas águas das chuvas. Resultado: a cidade precisa capturar mananciais cada vez mais distantes, o que, entre outras conseqüências, irá pesar no bolso do consumidor. E dê-se ele por feliz se o seu dinheiro pelo menos servir para comprar confortos essenciais, como água à vontade. Pois tal qual os demais serviços urbanos afogados em gente, o abastecimento de água e esgoto tende a piorar no futuro.

Hoje, na maior cidade brasileira e terceira maior cidade do mundo, São Paulo, com seus 16 milhões de habitantes, cerca de 550 mil pessoas todo dia deixam de receber água. As autoridades explicam que o sistema não consegue acompanhar o ritmo com que novos conjuntos habitacionais brotam da noite para o dia nas quebradas da inflada periferia. Esse é apenas um exemplo, uma entre tantas contas que formam o colar de aborrecimentos da supercidade atual. Existem aí dois paradoxos: a metrópole passa mal porque deu certo e corre o risco de ficar pior sempre que melhora.

Com efeito, poucos experimentos humanos se revelaram tão bem-sucedidos como a grande cidade - provavelmente a mais vistosa criatura da civilização industrial-capitalista que aflorou no século passado. Foi em lugares como Londres, Paris, Berlim e Nova York que tomou forma e substância a explosão do engenho humano, que produziu a nunca por demais louvada moderna cultura ocidental - nas artes e no comportamento, na ciência e na tecnologia, na política .e na organização da sociedade. Acima de tudo, a vida urbana proporcionou ao homem o prêmio maior da liberdade. Mesmo ao mais ácido e competente crítico do mundo burguês há cem anos, o filósofo alemão Karl Marx, não escapou o fato de que o modo de vida engendrado pela metrópole capitalista libertou o homem do fardo da “idiotia rural”, como ele afirmava.

Para dar um salto no tempo e alcançar um só exemplo: a revolução na conduta individual das últimas três décadas é simplesmente impensável dissociada das pulsações da cidade grande. Nada mais natural, portanto, que de um continente para outro, através dos oceanos, ou dentro de um mesmo país, ao longo de estradas poeirentas, todos os caminhos conduzissem o homem das esquálidas aldeias do passado ao reino da esperança encarnada na ruidosa agitação urbana. A busca da cidade foi responsável até bem pouco pelos maiores movimentos migratórios da crônica humana - e a partir daí, com variações determinadas pela História, a Geografia e a Economia, a cidade começou a não mais dar conta do recado.

Não tardou que os administradores percebessem que estavam acorrentados a um círculo de ferro. Pois quanto mais investissem na melhora do conjunto de bens e serviços urbanos, mais depressa essa melhora seria tragada por uma overdose de uso. É simples: para desafogar o trânsito, por exemplo, gastam-se caminhões de dinheiro na abertura de novas vias, que justamente por tornarem mais fácil a circulação tendem a atrair um número maior de veículos - e o tráfego volta a empacar. Guardadas as proporções, o mesmo se aplica a tudo de bom e necessário que a cidade tem a oferecer, sobretudo às populações mais pobres - o conjunto de conveniências que foi exatamente o chamariz para legiões de migrantes. As conseqüências desse interminável inchaço da demanda não há citadino que não as conheça na pele.

De todas as doenças que acometem a metrópole, nenhum sintoma parece tão desconfortável como o sufoco no trânsito que asfixia o cotidiano de ricos e pobres e para o qual não há medicamento eficaz à vista em parte alguma - a menos que se adotassem cirurgias sociais tão severas que atropelariam o sagrado direito de ir e vir. Mesmo sem ousar tanto, a tendência é restringir cada vez mais o uso do automóvel particular, seja pelo fechamento puro e simples - de áreas crescentes ao carro de passeio, seja mediante a cobrança de pedágios extorsivos pelo acesso ao centro, por exemplo. Pode ser pouco, mas é imprescindível: mesmo sem isso não há cidade grande capaz de permitir que toda a sua frota saia à rua ao mesmo tempo; e ainda que um bom número de carros permaneça sempre quieto nas garagens, a regra é a hora do rush virtualmente imobilizar um número maior de ruas durante períodos cada vez mais longos.

Os resultados são previsíveis: numa capital como Paris, em cuja área metropolitana vivem 8 milhões de pessoas e em cujas ruas rodam todo dia 1,3 milhão de carros, a velocidade média de deslocamento nos períodos de pico não chega a 13 quilômetros por hora - uma toada que deve acometer muitos parisienses de nostalgia do tempo das carruagens puxadas por garbosos cavalos - que, além de tudo, não enchiam o ar de monóxido de carbono. Considerado o problema do estrangulamento urbano em dimensão mundial, o dado mais inquietante é empobrecimento - em todos os sentidos - da metrópole. A grande cidade está se tornando, em primeiro lugar.uma grande cidade pobre. A regra atual, ao que todos os números indicam, é a ascensão das sofridas metrópoles do Terceiro Mundo ao ranking das cidades mais povoadas do planeta.

Em 1970, por exemplo, pertenciam ao time dos pobres apenas cinco das doze urbes mais povoadas; em 1985 tornaram-se oito; e no ano 2000 deverão ser dez, lideradas pela inabitável Cidade do México, com seus 25,8 milhões de moradores previstos, ficando apenas Tóquio (20,2 milhões) e Nova York (10,8 milhões) para fazer as honras da casa em nome do Primeiro Mundo. Ou, por outra: em 1914, para cada habitante do hemisfério norte havia outro no sul. No ano passado.para cada nortista já havia três do lado de cá do equador. E no ano 2008 a proporção será de um para seis. A primeira lição desses números está em que o que ainda passa por qualidade de vida em tais ajuntamentos tende a piorar à medida que for encolhendo a receita por habitante à disposição dos governos, pela simples razão de que quanto mais pobre a população, menor o valor dos impostos arrecadados.menor portanto a possibilidade de investimentos públicos capazes de melhorar a vida dessa mesma população.

Onde foi que homem errou, ao ocupar tanto e de forma tão desigual a superfície do planeta? Eis uma questão sujeita a chuvas e trovoadas, para a qual os especialistas oferecem as mais disparatadas explicações.muitas vezes em função das idéias políticas de cada um. Os conservadores, por exemplo, dirão que a culpa é dos pobres, sempre tão férteis e tão imprevidentes. Os progressistas acusarão as injustiças na distribuição da renda, tanto dentro de cada país como entre os países. Para além dessas simplificações, no entanto, pode-se dizer com alguma margem de confiança que tudo começou com os avanços da Medicina.

De fato, como resultado da revolução científica do século passado, não só os adultos começaram a morrer mais tarde como a mortalidade infantil iniciou uma queda sem volta. Assim, a população mundial cresceu 70 por cento entre 1800 e 1900, e outros 50 por cento entre 1900 e 1950. Na década de 60, a espécie humana multiplicava-se alegremente ao ritmo de pouco mais de 2 por cento ao ano. Parece nada, mas é uma explosão: uma taxa de crescimento anual da ordem de 2,5 por cento significa dobrar a população em menos de trinta anos. Isso exige, apenas para manter o padrão de vida da geração anterior, dobrar também toda a malha de bens e serviços à disposição dessa massa humana - desde o número de casas ao de vagas nas escolas, desde a produtividade agrícola à capacidade do sistema de transportes. Haja dinheiro.

Pois enquanto isso, na mesma década de 60, a taxa de crescimento da população brasileira roçava os 3 por cento - passando de 5 nas cidades (quase 6 por cento em São Paulo). Na verdade, a explosão demográfica há muito que não se propagava por igual no mundo. No hemisfério norte laico e moderno, a pílula anticoncepcional recém-inventada mantinha a demografia sob controle, havendo países, como a França e a Alemanha, onde a população até diminuía ligeiramente, descontados os contingentes de imigrantes africanos, turcos, portugueses e iugoslavos. Mas o Brasil e outras nações ao sul do equador passaram a conhecer o que os cientistas chamam transição demográfica - e que em bom português significa o pior dos dois mundos.

Pois, de um lado, o padrão material de vida melhorou, prolongando a existência dos velhos e encurtando as estatísticas de mortalidade das crianças; de outro lado, porém, nessa etapa os padrões de comportamento ainda permaneciam em larga medida tradicionais, incluindo-se aí arraigadas resistências culturais ao planejamento familiar. Isso, mais as migrações internas, explica o fantástico crescimento das cidades maiores. A década de 80 encaminha-se para o fim registrando que o Homo sapiens cresce à razão de 1,7 por cento no mundo. Os demógrafos, porém, não estão soltando rojões. A queda em relação aos anos 60 reflete, segundo eles, apenas a continuação da curva embicada para baixo da natalidade nos países ricos - somada aos efeitos do feroz programa de controle da natalidade adotado na China (1,1 bilhão de habitantes), sob o lema "uma família, um filho".

No conjunto dos países pobres, suspiram os demógrafos, a situação não mudou muito. Os africanos, por exemplo, crescem ao ritmo de 2,9 por cento ao ano. Não espanta, por isso, que na virada do século a empoeirada Kinshasa, capital do Zaire, deva ter 5 milhões e Lagos, na Nigéria, mais de 8. Sem falar no Cairo, no Egito, com 11 milhões. Com tanta gente no pedaço urbano mais pobre do globo, a aritmética apronta uma crueldade: mesmo que despenquem as porcentagens de crescimento demográfico (o que ainda não aconteceu), em números absolutos a população das cidades continuará a galopar. E, como diz o ambientalista americano Paul Ehrlich, “os ecossistemas respondem ao impacto de gente, não de taxas”. Os ecossistemas e tudo mais, diga-se.

Pelo menos uma convicção os demógrafos tendem a ter em comum: a chave para o controle populacional nos países chamados em desenvolvimento é a melhora da condição social das mulheres. E nesse ponto os especialistas dizem enxergar uma luz no fim do túnel no caso brasileiro. “A taxa de fecundidade da mulher no Brasil vem diminuindo desde 1965”, informa a demógrafa paulista Neide Patarra, da Fundação Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados). Ela se refere à relação declinante do total de filhos nascidos no país e o total de mulheres em idade reprodutiva, de 15 a 50 anos. “Hoje, 70 por cento das brasileiras em idade fértil usam anticoncepcionais”, contabiliza. De seu lado, o sociólogo Vilmar Faria, da Universidade de São Paulo, autor de pesquisas sobre o assunto, acredita que quatro fatores contribuíram indiretamente para isso.

Seriam eles: o crédito direto ao consumidor (que ampliou a compra de bens domésticos em detrimento dos gastos relacionados à reprodução da família); a melhora na Previdência (que amenizou a necessidade de ter muitos filhos para sustentar os pais na velhice); o acesso mais fácil aos serviços de saúde (com o mesmo resultado); e, enfim, o desenvolvimento dos meios de informação (que modernizaram os costumes). “As famílias pobres estão tendo menos filhos”, concorda o urbanista Jorge Wilheim, secretário do Meio Ambiente em São Paulo.Com não pouco otimismo. ele aposta que “a perspectiva da grande cidade brasileira não é o cataclismo, mas a estabilização”.

De novo é o problema dos índices e dos números absolutos. Pois, ainda que a taxa de crescimento da população paulistana congele em 2,3 por cento no ano 2000, como se prevê,contra 3,4 por cento hoje, bastarão 34 anos para que essa população simplesmente duplique. E o Brasil, então, sétimo país mais populoso do mundo,terá de prover pão e bem-estar para 245 milhões de cidadãos. Um século e meio antes de Cristo, numa cidade grega chamada Megalópolis, que apesar do nome não tinha mais de 6 mil habitantes, vivia um historiador chamado Políbio, a quem muito preocupava o pouco entusiasmo de seus patrícios em gerar descendentes. “Vai ser um suicídio coletivo”, costumava advertir. Talvez o velho Políbio não tivesse outro comentário a fazer se conhecesse as estatísticas da proliferação humana às portas do século XXI.


Megametrópoles do ano 2000.
Na virada do século, 485 milhões de pessoas estarão vivendo em cidades com 5 milhões de habitantes ou mais.
 Acompanhando o sentido do aumento das populações, o inchaço das cidades atinge principalmente os países mais pobres. Prova disso é que, no ano 2000, das 48 metrópoles de 5 milhões de habitantes para cima, 36 estarão localizadas no Terceiro Mundo - e, destas 21 na Ásia. Entre as regiões menos desenvolvidas, porém, a América Latina lidera a urbanização: em 1985, sete em cada dez latino-americanos já moravam em cidades. Na virada do século, serão praticamente oito em dez.


 A dança das cidades
De meados do século passado até o fim da Segunda Guerra Mundial, a cidade grande era tipicamente uma expressão dos grandes países - basta pensar em Londres, Paris, Nova York, Berlim. Desde então, nas metrópoles mais ricas, a população tendeu a estabilizar-se, quando não diminuiu efetivamente - com a notável exceção de Tóquio. Enquanto isso, a explosão das megacidades arrasa o Terceiro Mundo e subverte o ranking das maiores concentrações urbanas do planeta. Em 1970, por exemplo, Calcutá, na Índia, nem ao menos figurava entre as doze mais do mundo, então lideradas por Nova York. Em 1985, já com Tóquio na cabeça, Calcutá tinha massa humana suficiente para colocar-se em sexto lugar. No ano 2000, quando a Cidade do México for o maior ajuntamento urbano da Terra, Calcutá estará no quarto posto. São Paulo conhece bem este filme: de décima maior em 1970 saltou para terceira em quinze anos e deve subir mais um degrau até o ano 2000. Essas cidades sediam as chamadas “nações de miséria”. Segundo o economista Carlos Lessa, da Unicamp pertencem a tais nações três em cada dez habitantes do Brasil urbano.


Explosão na Terra
No século passado, a humanidade cresceu algo como 70 por cento. Neste, os números da demografia rebentam as costuras: até o ano 2000 a espécie humana terá aumentado cerca de 270 por cento em relação a 1900. Todo dia, 220 mil bebês vêm ao mundo. Apesar disso, o ritmo de crescimento da população mundial está diminuindo, sobretudo por causado planejamento familiar voluntário, adotado como regra geral nos países mais ricos. Também pesa nessa conta, porém, a severíssima política de controle da natalidade imposta pelo governo da China, às voltas com seu mais de 1 bilhão de cidadãos,onde a meta oficial é "uma família,um filho". Isso permite prever que no início do século XXI a humanidade estará crescendo à razão de 1,4 por cento ao ano, contra 1,7 por cento hoje em dia. No entanto, há quem receie que essa tendência venha a ser detida nos países modernos por uma espécie de contra-revolução dos costumes resultante da epidemia da AIDS; com a monogamia de novo em alta, as pessoas passariam a casar mais cedo, a ficar casadas mais tempo com o mesmo cônjuge - e a ter mais filhos que o planejado.


Estouro no Brasil
Tendo se multiplicado por cinco no século passado, a população brasileira deverá ter crescido outras dez vezes quando o calendário marcar o início do século XXI - um estouro por qualquer lado que se olhe os números. Mas podia ser pior. Em 1974 o IBGE concluía de suas projeções que no ano 2000 o Brasil teria 200 milhões de habitantes. As estimativas mais recentes, porém, indicam uma população vizinha dos 180 milhões, havendo até quem desenhe um total otimista de 170 milhões. Num país onde os governos sempre resistiram à idéia de patrocinar ativamente políticas de planejamento familiar, a desaceleração das taxas demográficas mostra o efeito de uma série de mudanças na economia, na sociedade, nos costumes: calcula-se que sete em dez brasileiras em idade fértil usam anticoncepcionais. Não raro, a queda dos índices de natalidade reflete também situações de patologia, nos abonos e esterilizações nem sempre consentidas. O Brasil, de todo modo, não vive uma crise demográfica como a Índia, a China e a maioria dos países africanos. O problema de arrepiar, aqui, é a explosão das cidades.


Haja espaço
Quando já se é grande, qualquer crescimento adicional, por discreto que seja, representa muito - em números absolutos. Essa elementar verdade aritmética, que faz a delícia dos milionários, por exemplo, é a face mais impiedosa da crise social que anda de braço dado com a proliferação urbana no Terceiro Mundo. É só imaginar a montanha de dinheiro, tecnologia, bens, serviços e equipamentos necessários para ao menos não piorar o padrão de vida do grosso da população de metrópoles como Cidade do México e São Paulo, Bombaim e Calcutá, onde o número de habitantes ameaça simplesmente dobrar em 25 anos ou pouco mais, se não caírem as taxas de crescimento atuais. Mesmo que se confirmem as projeções da ONU, segundo as quais mexicanos e paulistanos festejarão o novo século multiplicando-se à razão de 2,3 por cento ao ano (contra uns 3,5 hoje), a população das duas cidades duplicará em 34 anos.


 Onde estão os brasileiros.
Nestes vinte anos finais do século, nenhuma região do pais crescerá tanto como o Norte. De fato, em 1980 as vastidões amazônicas abrigavam esparsos 1,65 habitantes por quilômetro quadrado. No ano 2000, serão 3,2 habitantes - o dobro, portanto. Com isso, os nortistas serão ainda apenas 6,4 por cento do povo brasileiro (contra 5,6 % atualmente). Também representando pouco no conjunto da população, os habitantes do Centro-Oeste, com a expansão da fronteira agrícola, produzirão um aumento de 70 % na densidade demográfica da região - de 4 habitantes por quilômetro quadrado para 6,8. Os números amargos vêm do Sudeste, onde a densidade demográfica, que já é a maior do país com 56,3 habitantes/km2, deverá alcançar 84,5 habitantes/km2 na virada do século. Esse adensamento tornará a vida ainda mais difícil nas áreas metropolitanas de São Paulo, do Rio de Janeiro e Belo Horizonte. No todo, a densidade demográfica no Brasil irá a 21,1 habitantes/km2, 50 por cento a mais do que em 1980.

Fonte: <http://super.abril.com.br/cotidiano/explosao-demografica-urbanizacao-inflacao-humana-439036.shtml> Acesso em: 06/11/2011

Seca, enchentes, nevascas... O que está havendo com o clima?

(Revista Superinteressante - Fevereiro/2002)

Não é de hoje que é impossível prever e controlar o tempo. Não é de hoje também que tragédias naturais matam muita gente. Será que você não devia estar mais preocupado com isso?

por Rodrigo Vergara


Chuva no Nordeste, seca no Rio Grande do Sul e nevascas no Egito. Invernos quentes e verões frios. O clima no mundo parece ter enlouquecido. No ano de 1999, o número de catástrofes climáticas bateu um recorde histórico: foram 755. O recorde anterior, 702, havia sido estabelecido em 1998. E pesquisas recentes atestam que os eventos climáticos extremos, que fogem à normalidade, foram mais freqüentes nas últimas três décadas. Comparados ao comportamento “normal” do clima, aquele baseado no relato de nossos avós e bisavós, esses acontecimentos parecem inéditos. Mas não são. A história do clima, como você verá, é bem mais atribulada.

Os primeiros colonos ingleses na América do Norte se instalaram em 1587 na ilha de Roanoke, Virgínia, costa leste dos Estados Unidos. Era uma gente corajosa. Eles sabiam que, como a Inglaterra estava em guerra, tão cedo não haveria barcos para visitá-los. Teriam que viver com os frutos da terra. O novo mundo parecia promissor e a tarefa não soou impossível. No entanto, quando o primeiro navio de suprimentos voltou, três anos depois, sua tripulação teve uma surpresa: os colonos haviam sumido. Não sobrara ninguém para contar o que houve. Ninguém, exceto as árvores do local. Foi há apenas dez anos, observando a espessura de seus troncos, alguns com 800 anos de idade, que os cientistas decifraram o que houve em Roanoke quatro séculos atrás. A tragédia, concluíram, foi causada pelo clima: entre 1587 e 1589 ocorreu a maior seca dos últimos oito séculos em Roanoke. Os colonos haviam chegado bem no começo da estiagem. Morreram de fome.

Não foi a primeira vez que uma mudança climática exterminou uma população humana. Os maias, que dominaram a América Central até o sé-culo VIII, sumiram do mapa durante uma forte seca, segundo nos contam sedimentos depositados no fundo dos lagos da região. Os acadianos, que formaram a primeira cidade na Mesopotâmia, há 4 100 anos, também foram vítimas do clima, devido a uma seca provocada pelo esfriamento das águas do Atlântico Norte. Como os cientistas descobriram isso? Primeiro, encontraram, nos sedimentos do Golfo de Omã (entre o Golfo Pérsico e o Mar da Arábia), grandes quantidades de poeira vinda da Mesopotâmia naquela época. Ou seja, o clima estava árido. Sabe-se também que, naquela época, houve um esfriamento no Atlântico Norte, que reduziu a temperatura das águas entre 1ºC e 2ºC. Os instrumentos de medição atuais mostram que, quando o Atlântico Norte esfria, diminui o suprimento de água na Mesopotâmia.

Essas desgraças do passado permitem duas conclusões. A primeira é que não há nada de inédito nas tragédias que vivemos hoje. Os desastres dos maias e dos acadianos foram causados por eventos de uma intensidade que o homem moderno nunca viu, mas é 100% certo que tais catástrofes ocorrerão novamente, segundo Peter deMenocal, da Universidade de Columbia, Estados Unidos, um dos maiores especialistas em clima no mundo. “Secas com duração de vários séculos são raras, mas fazem parte da variabilidade natural.” A seca que assolou os Estados Unidos nos anos 30 – há apenas 70 anos! – e causou um grande êxodo de agricultores que viviam nas planícies do sul, foi um grande flagelo para a potência mundial, mas não passou de algo corriqueiro e mediano na história da Terra. O estrago pareceu imenso, mas estiagens como aquela ocorreram, em média, uma vez por século nos últimos 400 anos na América, segundo estudo do governo americano.

A segunda conclusão é que, embora naturais, esses eventos climáticos radicais são, de fato, ameaçadores e podem causar grandes danos. Estamos, então, correndo o risco de extinção? Nem tanto. Mas, sem dúvida, há com o que se preocupar. “Sociedades complexas são capazes de se adequar a alterações climáticas, mas não são infinitamente adaptáveis”, diz deMenocal.

Porém, há no horizonte uma mudança climática importante que foge à variabilidade natural do clima: a Terra está esquentando. Os cientistas divergem sobre as causas e os efeitos da alteração, mas sua existência é um consenso, como atestou, no ano passado, o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), um consórcio de cientistas que estuda o tema há mais de uma década. Segundo o grupo, em 100 anos, os termômetros subiram 0,5ºC, em média.

Não é pouco. Durante a última era glacial, que terminou há 10 000 anos, a temperatura do planeta era apenas 3ºC mais baixa que hoje, mas o gelo ártico chegava à Grã-Bretanha. Por conta desse meio grau a mais, 1998 foi o ano mais quente da década mais quente do século mais quente dos últimos 600 anos (essa aferição é feita pela análise de troncos de árvores ao redor do mundo, como em Roanoke). Carlos Nobre, chefe do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (CPTEC-Inpe), vai além. Para ele, os indícios confiáveis à disposição, que regridem no tempo 6 000 anos, não registram temperaturas tão altas como hoje.

Nos últimos 50 milhões de anos, todos os vaivéns do clima, o início e o fim das eras glaciais, foram disparados pelo Sol. É que, embora não se perceba, a posição do Sol em relação à Terra varia levemente ao longo de milhares de anos e isso muda a quantidade e a distribuição da energia que o astro emite sobre o planeta. Uma das mudanças, por exemplo, é no eixo de inclinação da Terra em relação ao Sol, que varia a cada 41 000 anos. Isso altera a incidência de luz solar sobre certas áreas do globo, o que acarreta mudanças por aqui. Faz muita diferença se a área mais iluminada é um oceano ou terra nua, por exemplo.

Na Terra, três fenômenos acompanham esse balé solar. São eventos independentes, ocorrem de forma simultânea e se intensificam mutuamente.

O primeiro ocorre nos oceanos. Quando a água esquenta, ela perde a capacidade de reter gases, entre eles o gás carbônico (também conhecido como CO2 ou dióxido de carbono) dissolvido. Cerveja quente não faz mais espuma? Pois então: aquelas borbulhas também são gás carbônico. E há gás de sobra para ser liberado. Há, hoje, dissolvido nos mares, 50 vezes mais CO2 que a quantidade existente na atmosfera. E daí? Daí que, na atmosfera, o dióxido de carbono é um dos mais importantes agentes do efeito estufa. Agindo nas camadas superiores, o CO2 aprisiona a energia do Sol e aquece a Terra . Por conta disso, a concentração de CO2 sempre acompanhou o clima: nos períodos mais quentes, havia muito gás carbônico no ar; nos tempos mais frios, pouco. Assim, quando o oceano libera o dióxido de carbono, o resultado é mais aquecimento.

O calor aumenta a evaporação de água, disparando o segundo gatilho, pois o vapor de água é um gás do efeito estufa ainda mais potente que o gás carbônico. Conclusão: ainda mais calor. Por fim, derretem-se as calotas polares, que refletem 70% da luz solar que recebem. Qualquer superfície que as substitua – água, terra ou vegetação – refletirá menos luz (mais fervura). Esse círculo vicioso só pode ser interrompido por uma nova mudança do ciclo astronômico.

A novidade é que, pela primeira vez, está havendo uma mudança climática global em que o Sol não é o ator principal. “A maior parte do aquecimento observado nos últimos 50 anos se deve ao aumento da concentração de gases estufa”, diz o relatório deste ano do IPCC. Ou seja, o aquecimento atual não foi disparado pelos ciclos astronômicos, mas pelo gás carbônico, cuja concentração atual no ar é – seguramente – a maior dos últimos 400 000 anos e, possivelmente, a maior em 25 milhões de anos, segundo Carlos Nobre. Tudo graças à queima de combustíveis fósseis (carvão, petróleo), que, desde o início da Revolução Industrial, aumentou 600 vezes a emissão de CO2 na atmosfera, de 10 milhões de toneladas por ano para 6 bilhões de toneladas anuais. Quando queimamos petróleo e carvão, devolvemos à atmosfera uma reserva de carbono que vem se acumulando há bilhões de anos e que, sem nossa ajuda, não voltaria ao ciclo natural.

Bem, e quando começam os efeitos do aquecimento? Para alguns, as maluquices climáticas atuais já são conseqüência do calor extra. Mas a maioria dos cientistas é mais cautelosa em suas conclusões. Diz-se que o estudo do clima é complexo, envolve muitas variáveis e que uma verdade hoje pode ser um fiasco amanhã. Por enquanto, os especialistas só admitem o óbvio, como a elevação da superfície dos oceanos, que foi de 10 a 25 centímetros no século passado. Mas há outros sinais mais sutis. A nebulosidade, por exemplo, aumentou. Por sua vez, a cobertura de neve diminuiu, ao menos no Hemisfério Norte, onde o assunto já foi pesquisado: uma queda de 10% nas décadas de 70 e 80. Ainda no Norte, na década de 80 o outono chegou mais tarde, o que ampliou em 12 dias o período de crescimento vegetal. Resultado: o Norte ficou 10% mais verde no verão em comparação com a década anterior.

Ou seja, em certas áreas, o aquecimento pode significar um aumento da cobertura vegetal em vez de devastação e desertificação, como é de supor à primeira vista.

Diante de tantas mudanças, a pergunta mais óbvia é: podemos controlar o clima e evitar essa mudança? Não. O progresso científico dos últimos 400 anos dá a falsa impressão de que a humanidade domou a natureza, mas isso não corresponde à realidade. O máximo que conseguimos é fazer chover em áreas isoladas, quando muito. A tecnologia mais moderna consiste em despejar, sobre nuvens carregadas de umidade, grandes quantidades de flocos de uma substância que aglomera os minúsculos pingos de água em suspensão. Muito útil para limpar o céu no dia de um espetáculo ao ar livre, mas só.

O que se pode fazer é prever, ainda que de maneira muito precária, o que acontecerá daqui para a frente. As previsões sobre o futuro do clima devem ser tomadas com cautela, mas é verdade também que são dramáticas. Segundo o relatório do ano passado do IPCC, no ano de 2100 a temperatura média será 1,4ºC a 5,8ºC mais alta. Na primeira hipótese, o planeta atingiria a mais alta temperatura em 1 milhão de anos. “Mas, se o cenário pessimista se concretizar, teríamos um aquecimento inédito em 3,6 milhões de anos”, afirma Thomas J. Crowley, paleoclimatologista da Universidade do Texas. Ou seja, a temperatura atingiria patamares nunca vistos sequer por ancestrais remotos do homem (o gênero Homo surgiu há “apenas” três milhões de anos). Os oceanos subiriam mais ainda: entre 18 centímetros e 95 centímetros, inundando áreas onde vivem hoje 118 milhões de pessoas. E alguns fenômenos globais que envolvem a atmosfera e o oceano, como o El Niño, seriam mais freqüentes e mais intensos.

Algumas mudanças devem ocorrer subitamente. No Mar do Labrador, na costa leste do Canadá, ocorre a Formação de Águas Profundas, um fenômeno que impulsiona as correntes marítimas ao redor do mundo.Pois bem: segundo Ilana Wainer, professora de Oceanografia da Universidade de São Paulo (USP), o fenômeno pode acabar. Pior: isso ocorreria em algumas décadas, segundo o meteorologista Syukuro Manabe, diretor do Sistema de Pesquisa sobre a Mudança Global, em Tóquio, Japão. A mudança alteraria o clima no mundo porque são as correntes que distribuem o calor solar incidente nos trópicos. Nos pólos, elas fornecem uma energia equivalente a 30% do calor que incide ali. A água tépida da Corrente do Golfo, por exemplo, só alcança a Europa por causa dessa circulação. Se o empurrão faltar, a Europa teria um clima parecido com o do Canadá.

Quando ocorrem grandes mudanças ambientais, sobrevivem as espécies com maior capacidade de adaptação. A raça humana, que já sobreviveu a uma era glacial, tem grandes chances de superar mais essa mudança, mas alguns ficarão pelo caminho: os mais pobres. O aquecimento, por exemplo, deve mudar o regime de chuvas, causar fome e quebras de safra, segundo o jornalista americano William Stevens, autor do livro The Change in The Weather (A mudança no clima, inédito no Brasil). Na África subsaariana, onde milhões vivem da agricultura de subsistência, isso seria uma tragédia. Mas não nos países ricos, onde os recursos permitem comprar comida, erguer diques ou abrir frentes agrícolas rapidamente.

Para muitas espécies, no entanto, o trauma deve ser maior. Entre outras mudanças, o aquecimento está empurrando as zonas climáticas em direção aos pólos, ou seja, áreas hoje ocupadas por florestas temperadas poderiam ter clima propício para matas tropicais. Na Europa, a área de ocorrência de algumas espécies de borboletas moveu-se para o norte no século XX. O menor deslocamento foi de 35 quilômetros. O maior, 240 quilômetros. Prevê-se que, ao final deste século, no Hemisfério Norte, o deslocamento das zonas climáticas seria de 160 a 560 quilômetros. No passado, isso levou espécies a evoluir. Mas a situação atual é diferente: a ação humana isolou os ecossistemas naturais. Florestas cercadas por cidades ou lavouras não podem migrar.

“Sem ter para onde ir, essas formas de vida simplesmente deixarão de existir, em uma perda importante de biodiversidade e um enfraquecimento da rede da vida”, diz o jornalista William Stevens. Os ecossistemas seriam simplificados. Os parques e as reservas naturais, imobilizados em suas fronteiras atuais, restariam inúteis.

Mas tudo isso são hipóteses. No atual estágio do estudo do clima, não é possível fazer mais que isso. É verdade que os centros de meteorologia possuem os mais avançados computadores, capazes de realizar 2,5 trilhões de cálculos por segundo, assim como equipamentos ao redor do mundo. Só o serviço de meteorologia americano mantém quatro satélites, 121 estações com radar e seis centros de pesquisa com supercomputadores. Mas o sistema segue falível. No ano passado, por lá, as previsões de precipitação com um dia de antecedência foram corretas em 69% dos casos e o limite para previsões locais por computador é de uma semana.

É que prever o clima depende de dados de milhões de anos e faltam registros detalhados sobre o passado. A temperatura só começou a ser registrada sistematicamente há 150 anos e com grandes falhas. Em uma varredura dos dados existentes, dois pesquisadores britânicos jogaram fora a maior parte dos registros. Os dados confiáveis nos últimos 150 anos se resumem a 1 548 estações no Hemisfério Norte e 293 no Hemisfério Sul. Esse é o banco de registros humanos na história da meteorologia. Os satélites foram um grande avanço, mas só existem a partir de 1979. Os balões meteorológicos, a partir de 1950. Só nos resta, portanto, confiar nos vestígios deixados pelo clima, fiarmo-nos em nossa limitada capacidade de prever o futuro e procurar evitar os perigos que ele nos reserva.

Fonte: http://super.abril.com.br/ciencia/seca-enchentes-nevascas-esta-havendo-clima-442669.shtml Acesso em: 01/11/2011